Eu não queria desfazer a mala
quem sabe conservando ali
as roupas
os cheiros
e os presentes…
os dias passados também permanecessem
Eu não queria desfazer a mala
Revirar os objetos sentidos
a textura dos tecidos
em que trocamos
tanto abraço
talvez me surte
de saudade
Eu não queria desfazer a mala
olhar tudo o que não coube
relembrar tudo o que versei e soube
me calar diante a água caída
Eu não queria desfazer a mala
Sempre chovo
trovoo
relampejo clicks de memórias
e me desmancho
em tempestade que derruba árvores
e certezas
Eu não queria desfazer a mala
Queria sair sol
de girassol
da cor
do meu cabelo
no meu vestido azul…
Aqui dentro tá tudo usado
vivido
tênis pisado de chão amanhecido
vestido sujo de comida feita as 5 da tarde
saia de barra encardida pq andei descalça
short marcado porque sentava em qualquer lugar
praquela prosa boa
pra roda de cantoria
pros cantos de compor vida e beijo longo
e filme as 4 da manhã
Eu não queria desfazer a mala
posso pegá-la e voltar pra nossa Nárnia
E lavamos tudo juntos
Ou não.
Perto de quem me ama assim
ando nua
até de mim…
– não sei lidar.
Marília Rossi